O diplomata Flavio Marega irá assumir o cargo de embaixador do Brasil na Arábia Saudita no início do próximo ano e uma de suas prioridades será atuar pelo fim do embargo que o governo saudita impôs há dez meses sobre a compra de carne bovina brasileira. O embargo foi determinado após a divulgação, em dezembro de 2012, pelo Ministério da Agricultura brasileiro, da identificação do agente causador do mal da vaca louca num animal morto em 2010. O bovino, no entanto, não morreu por causa da doença e não chegou a desenvolvê-la.
“Eu vou trabalhar da melhor forma possível, com todo o empenho, para demonstrar para as autoridades sauditas que vários países voltaram a importar carne brasileira. Inclusive o Egito, que é um país extremamente ligado à Arábia Saudita, voltou a comprar carne (do Brasil)”, destacou Marega, em entrevista à ANBA, durante visita à Câmara de Comércio Árabe Brasileira, nesta segunda-feira (14).
Esta semana, durante sua passagem por São Paulo, o diplomata terá encontros com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) para se inteirar das negociações do tema com a Arábia Saudita. O assunto também foi pauta da conversa do novo embaixador com Michel Alaby, diretor-geral da Câmara Árabe. Na entidade, ele foi recebido por Alaby e pelo presidente Marcelo Sallum.
“Não há motivos do ponto de vista sanitário para que o governo saudita continue apresentando empecilhos à importação da carne (bovina brasileira)”, ressaltou Marega. Segundo o embaixador, o próximo passo que deve ser dado para o fim do embargo é a vinda de uma delegação saudita ao Brasil para conversar com as autoridades sanitárias do país e conhecer as entidades certificadoras (de carne). A visita deveria ter ocorrido no mês passado, mas acabou não acontecendo.
“Meu primeiro trabalho ao chegar lá vai ser mostrar para as autoridades sauditas a importância de que essa missão venha o quanto antes, para que eles possam conhecer a realidade local e, consequentemente, liberar novamente a importação de carne”, explicou Marega.
Comércio bilateral
O novo embaixador afirmou ainda que a área comercial será o principal setor a ser trabalhado na relação entre Brasil e Arábia Saudita. “É o país com o maior comércio bilateral do Oriente Médio com o Brasil”, apontou. “No ano passado, foram US$ 6,196 bilhões, ou seja, um volume expressivo de um comércio bastante equilibrado, praticamente meio a meio”, falou o embaixador sobre os números da corrente comercial entre os dois países.
Marega lembrou que o Brasil exporta basicamente produtos primários à Arábia Saudita, mas que o País começa a abrir espaço na exportação de produtos manufaturados à nação árabe. “Crescentemente, há uma diversificação na exportação de manufaturados, capitaneados pelos aviões de Embraer, que fornece para duas empresas, a Saudi Airlines e a NAS, que é uma empresa regional”, contou.
O diplomata revelou ainda que pretende ativar o Conselho Empresarial Brasil Arábia Saudita, grupo criado em 2009 com o objetivo de manter em contato CEOs e presidentes de importantes empresas dos dois países, mas que ainda não tem seus membros sauditas definidos.
A participação brasileira em feiras de negócios na Arábia Saudita, o incremento de missões comerciais entre os dois países e a promoção de investimentos bilaterais também fazem parte dos planos de trabalho do novo embaixador. “Sem dúvida nenhuma, essa via comercial é a mais importante do meu trabalho, e eu pretendo devotar as ações no sentido de levar a cabo várias iniciativas” declarou.
Cultura e turismo
Fora do âmbito comercial, Marega apontou que também há espaço para ações de promoção cultural e turística, mesmo com as diferenças de tradição e religião que existem entre os países. De acordo com o embaixador, é possível promover, por exemplo, exposições fotográficas sobre a cultura e o patrimônio histórico brasileiro na Arábia Saudita.
“Outra área a ser explorada é a de literatura infantil, que no Brasil está muito desenvolvida, e nós poderíamos fazer tradução para o árabe de livros infantis para serem distribuídos nas escolas sauditas, como forma de conhecer melhor a cultura brasileira”, explicou.
Sobre o turismo, Marega aposta em uma divulgação mais forte do Brasil como destino turístico entre os sauditas. “Certamente no ano que vem, com a Copa do Mundo, virão para cá muitos sauditas, porque eles gostam muito de futebol, o que irá contribuir para melhorar lá a imagem do Brasil como destino turístico importante”, completou.
De volta ao início
Aos 53 anos, Marega tem 24 dedicados à diplomacia. A Arábia Saudita foi o país onde assumiu seu primeiro posto trabalhando como representante do governo brasileiro. “Vai ser um desafio muito grande para mim, e ao mesmo tempo uma experiência gratificante voltar ao país onde eu iniciei a carreira diplomática no exterior”, avaliou. Ele trabalhou em Riad de março de 1990 a outubro de 1992, como chefe do Departamento de Promoção Comercial da embaixada do Brasil no país árabe.
Será a primeira vez que Marega assume o posto de embaixador do Brasil. Até chegar aqui, ele também já atuou como representante do País na Organização Mundial do Comércio (OMC), trabalhou na embaixada brasileira em Montevidéu, no Uruguai, foi subchefe da divisão do Mercosul no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, foi chefe de política comercial da embaixada brasileira em Washington e atualmente é ministro-conselheiro para a área econômica e financeira na embaixada do Brasil em Londres.
Natural de Paranavaí, no Paraná, mas criado em Marília, no interior de São Paulo, Marega é formado em Direito e também em História. Ele deve tomar posse do cargo em janeiro, substituindo o atual embaixador Sérgio Luiz Canaes.
Fonte: Agência Anba