A opção de escoar a produção de grãos pelo Arco Norte (região que engloba os estados do Amapá, Pará, Roraima, Amazonas, Acre e Maranhão) e o aprimoramento do acesso aos portos de Santos e Paranaguá trarão alívio ao agronegócio do Brasil Central durante o escoamento da atual safra, mas os gargalos logísticos ainda vão gerar dor de cabeça ao setor.
A ferrovia que liga o recém-inaugurado terminal de Rondonópolis até Santos (Ferro-Norte) aumentará a disponibilidade de vagões, as frotas de caminhões foram ampliadas e os dois principais portos do País adotarão sistema de agendamento de cargas, mas a safra brasileira continua se expandindo. O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta para uma produção de 195,9 milhões de toneladas, quase 5% maior que a do ciclo passado.
“Acreditamos que teremos um quadro semelhante ao do ano passado porque, embora Mato Grosso produza mais, vamos escoar pelo Norte”, afirma Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística. Segundo ele, cerca de 9,5 milhões de toneladas de grãos devem ser exportadas pelos portos da região em 2013/14, sendo 2 milhões de toneladas por Miritituba (PA), 1 milhão de toneladas por Santarém (PA), 5 milhões de toneladas por Porto Velho (RO) e 1,5 milhão de toneladas por Itaqui (MA).
“Ainda é pouco. Nós precisamos escoar 20 milhões de grãos pelo Norte”, reconhece Carlos Fávaro, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT). Ele diz que a situação da infraestrutura logística brasileira só deverá melhorar a partir de 2015/16, quando novos terminais forem inaugurados no Norte, aliviando a pressão sobre os portos do Sul. “Estamos entulhando Santos e Paranaguá com nossa safra e tirando a competitividade de quem produz em outras regiões (Sul e Sudeste). Aumentando os volumes escoados pelo Norte, o frete deverá cair pelo menos 30% em 2015”, estima.
Para este ano, Fávaro prevê que os custos recordes de transporte se repetirão. Em 2013, o trecho de Sorriso a Santos ou Paranaguá chegou a US$ 150 (R$ 352,58, com base na cotação de ontem) por tonelada no pico da safra. “Esses mesmos 2 mil quilômetros nos Estados Unidos saem por US$ 18 ( R$ 42,31) a US$ 35 (R$ 82,27) por tonelada, porque lá eles usam hidrovias”, compara.
Mas há quem esteja um pouco mais otimista em relação ao escoamento da produção de grãos. Na opinião de Fábio Meneghin, sócio-analista da Agroconsult, o frete deve encarecer menos que em 2013. Para o mesmo trajeto citado por Fávaro, ele projeta um desembolso de R$ 285 a R$ 290 por tonelada em março próximo, valor 3,5% a 5,2% menor que os R$ 300 por tonelada verificados em igual período do ano anterior, mas 14% a 16% superior aos R$ 250 por tonelada praticados durante a entressafra. “Essa próxima safra já tem um planejamento maior das tradings e dos terminais nos portos. Algumas obras foram feitas”, observa Meneghin.
Fernando Lobo Pimentel, sócio-diretor da Agrosecurity, também avalia que o caos logístico deverá ocorrer com menor intensidade porque, diferentemente do que aconteceu nos primeiros meses do ano passado, a soja não competirá com o milho nos portos. “As tradings devem ser mais conservadoras na alocação de navios para milho a partir de janeiro, até porque já tiveram safra cheia dos EUA”, justifica.
Fonte: A Tribuna