China e Brasil parecem estar mais dispostos a intensificar suas relações comerciais, tanto é que no fim de semana passado, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Alessandro Teixeira, encontrou, pela primeira vez, o vice-ministro e representante de comércio internacional da China, Zhong Shan, com delegações de governo de ambas as partes. Na reunião, Teixeira disse que o Brasil reconhece a China como um parceiro estratégico para o desenvolvimento. E Shan considerou que há grande potencial para parcerias entre Brasil e China. Mas especialistas estão com dúvidas se esse encontro deve resultar em aumento da relação comercial e na entrada de investimentos chineses no País.
“Seria mais fácil ampliar essa relação se partisse somente de uma vontade política e se as ações de ambos os países fossem focadas nos empresários, mas não é este cenário. Um país é comunista e outro, democrático, além de que o governo brasileiro fica sempre no discurso e quando vai apoiar o investimento privado, oferece taxas de retorno baixas e pouco atrativas, por exemplo”, diz Claudio Gonçalves, professor da Trevisan Escola de Negócios.
No encontro com o representante chinês, Teixeira tentou mostrar que existem similaridades na condução econômica entre ambos. “As políticas brasileiras de desenvolvimento buscam objetivos similares com o modelo de desenvolvimento social e econômico da China. Especialmente a política industrial brasileira tem procurado exemplos no atual 12º plano de desenvolvimento chinês”, comentou.
Zhong Shan avaliou que o desenvolvimento brasileiro vem ocorrendo de forma muita rápida e que o objetivo de sua visita ao País, como representante do governo chinês do presidente Xi Jinping, é promover o intercâmbio comercial com o Brasil. “Estamos no melhor nível de cooperação da história dos nossos países. A confiança entre os nossos governos é muito grande, sem que haja problemas na esfera política”, disse.
Com relação às parcerias, o representante chinês disse que as áreas de produção manufatureira, energia, telecomunicações, produção agrícola e financiamento são os setores com potencial para acordos.
Para o professor, o que o Brasil precisa é tornar seu produto competitivo, o que atrairia a demanda não só da China, mas de vários países asiáticos, que “juntos representam 35% da participação do comércio mundial”. “Para resolver isso é preciso investir nos nossos gargalos, principalmente logísticos. A vantagem que a China leva sobre nós é que lá há redução de custos, com mão de obra e com transportes o que faz com que eles consigam atender a importante demanda de seu continente”, critica.
No encontro com Teixeira, Zhong Shan mencionou que, nos próximos cinco anos, a China deverá importar US$ 3 trilhões do mundo e que o Brasil poderá aumentar a sua participação nas compras chinesas, especialmente de produtos manufaturados. “Há muita complementaridade entre as nossas economias com grande potencial a ser explorado pelo Brasil”, destacou.
Questionado se atrair o capital chinês também deveria ser considerado pelo governo brasileiro nesses encontros, o professor da Trevisan diz que “qualquer recurso estrangeiro é necessário para o País”. “Nós temos que aproveitar este momento de estabilidade econômica e política fazer atrair esses investimentos”, entende.
O MDIC informou que, no encontro, porém, o secretário-executivo do ministério propôs a realização de duas missões comerciais ao país ainda este ano.
Balança comercial
A China é o principal parceiro comercial do Brasil, atualmente, mas essa relação não vem apresentando resultados positivos ao País nos últimos meses ou anos. De acordo com os últimos dados do MDIC, em março o saldo comercial entre Brasil e China recuou 19,08%, para US$ 1,052 bilhão, ante os US$ 1,300 bilhões registrados no terceiro mês de 2012, resultado da queda de 0,05% (para US$ 3,904 bilhões) das exportações brasileiras e da alta de 9,94% (para US$ 2,852 bilhões) das importações para a China.
Com relação ao saldo comercial entre Brasil e China, começou neste ano com déficit de US$ 1,104 bilhão (compras atingiram US$ 8,822 bilhões e vendas, US$ 7,718 bilhões). Na comparação com o acumulado de 2011 com o de 2012, o saldo teve queda 39,45%, ao passar de US$ 11,523 bilhões para US$ 6,977 bilhões, fazendo com que a corrente de comércio caísse de US$ 77,105 bilhões para US$ 75,478 bilhões, nessa base de comparação.
Fonte: Diário do Comércio e Indústria